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Luzes, Câmera, Entrevista!

Eu sempre quis ser diretora, mas uma coisa que me pegava muito era não aparecer em talk shows e programas de entrevistas.

Tosco, eu sei.

Eu sinto que sempre tive opiniões, adoro responder perguntas e brincar de entrevista é meu passatempo favorito (quando eu sou a entrevistada claro). Ultimamente, vendo cada vez mais diretores terem seu lugar de fala nessas brincadeiras dinâmicas e entrevistas públicas que não fossem só sérias, eu me vi enxergando uma nova possibilidade, e me vendo no caminho certo para mais um sonho.

Recentemente, eu assisti ao vídeo "Directors Roundtable: Todd Phillips, Martin Scorsese, Greta Gerwig, Noah Baumbach | Close Up" do The Hollywood Reporter, onde seis diretores se reuniam à mesa com um entrevistador e discutiam sobre a profissão.

Com Stephen Galloway soltando pontos de discussão, tive a oportunidade de escutar um pouco da opinião e carreira de grandes nomes como Todd Phillips ('Joker'), Martin Scorsese ('The Irishman'), Lulu Wang ('The Farewell'), Noah Baumbach ('Marriage Story'), Greta Gerwig ('Little Women'), e Fernando Meirelles ('The Two Popes') e criar minhas próprias respostas para algumas das perguntas.

A primeira conclusão que eu cheguei ao finalizar o vídeo, é que eu deveria correr para um curso de oratória - aparentemente ficar atrás das câmeras não é desculpa para falar mal em frente a elas...

A segunda foi que eu encontrei a profissão certa. Em meio a grandes diretores que foram algumas das minhas maiores inspirações na indústria cinematográfica, sendo por serem os mais conhecidos ou os mais condizentes com meus sonhos - estas pessoas, que começaram como eu, com um sonho e uma certeza de que as vezes desapontar os pais é necessário para ser feliz, e se tornaram nomes de destaque em posters de filmes icônicos, eu me toquei que o meu caminho como futura diretora (se tudo der certo) será para sempre influenciado por esta roda de conversa.

Claro, eu aprendi muito - desde como a personalidade dos diretores não necessariamente influencia na sua direção ( veja: Noah Baumbach, o robô, e a cena "EVERYDAY I WAKE UP AND I WISH YOU WERE DEAD"), até como, às vezes, temos visões tão diferentes sobre um mesmo assunto.

Ali pelo minuto 2 eu me peguei respondendo algumas das perguntas ao lado de grandes inspirações que me moldam como profissional, e me diverti com a ideia de que algum dia eu poderia estar ali, ou em algum talk show tosco, divertido e inusitado, respondendo perguntas genéricas e jogando jogos aleatórios.

Pela primeira vez, eu senti que aquela vontade poderia se tornar realidade, e que eu poderia começar bem aqui.


DIRECTORS ROUNDTABLE - UM POSSÍVEL CORTE COM NICOLE CUNHA



O seu filme de maior sucesso te tirou do mundo que você conhece, mas quanto de um filme é autobiográfico?


BAUMBACH: É uma pergunta que recebo em todos os meus filmes. Porque tenho o hábito de fazer filmes que acontecem em alguma versão do que consideramos como o mundo real cotidiano. Philip Roth tem uma ótima citação. Ele sempre começava pegando duas pedras da realidade e as esfregava juntas para acender a imaginação. E eu me identifico com isso, porque frequentemente, quando começo a escrever, pego coisas que me são familiares. Isso me coloca em um lugar que parece real e, a partir daí, posso ficcionalizar e seguir em frente. Gosto de filmar em ruas que têm memórias da minha infância. Muito do que fazemos é uma espécie de conversa com a criança que fomos.


SCORSESE: Minha mãe e meu pai estavam [nos meus filmes].


BAUMBACH: Você se conecta a algo pessoal.


CUNHA: Eu sempre vi roteiros como algo que você sente que precisava ser contado. Não interessa se é em uma comédia, uma risada que precisava ser "rida", um drama com um choro que deveria ser chorado ou um terror com um susto que deveria ser sofrido. Um roteiro começa com uma ideia real, em uma visão imaginada. Quando eu era menor, minha mãe passou por uma fase de insônia e ela dizia que o que ajudava era pensar em uma situação que você passou e começar com os "e se..." - e se eu tivesse tomado aquela oportunidade, ou virado à esquerda e não a direita? e se eu tivesse gasto todo o meu dinheiro em uma passagem para uma vila distante e tivesse conhecido uma pessoa que me oferecesse meu trabalho dos sonhos? e eu acho que é dai que eu imagino meus roteiros, então sim é algo muito pessoal por que quem escreveu foi você sabe?


O que você mais gosta em fazer filmes?

MEIRELLES: Eu amo a edição.


SCORSESE: Eu também.


PHILLIPS: Sempre dizemos: Fazer um filme é o preço que se paga para chegar à sala de edição.


MEIRELLES: Eu vou para o set principalmente para pegar coisas, para poder ir para a sala de corte. Quieto. Escuro. E então você pode mudar todo o roteiro. Você muda a atuação. Você muda tudo.


SCORSESE: Tudo.


PHILLIPS: Diretores, por natureza, são controladores e não há lugar onde você tenha mais controle do que na sala de edição. Estar no set é divertido. Escolher o elenco é divertido. Mas é um pouco fora de controle. Quando você chega à sala de edição, finalmente está no controle.


GERWIG: Sinto profundamente que os filmes são feitos na preparação. Quando você está no set, é tarde demais. Está acontecendo. Mas eu me sinto muito em sintonia com qualquer situação existencial que seja nosso estado [de espírito], que é que sinto de forma muito vívida que cada segundo que você gasta fazendo uma coisa é um segundo que você não gasta fazendo outra coisa. Isso é verdade para toda a sua vida, mas eu sinto de forma mais vívida em um set de filmagem. Também é bonito ter uma forma de arte cronometrada.


BAUMBACH: É a única forma de arte que existe onde você realmente precisa terminar em um cronograma. Seu prazo é quando o sol se põe. Você nunca mais vai ter aquela locação com todas as centenas de pessoas que você conseguiu. Mas você quer [essas] limitações.


MEIRELLES: Você está sempre lutando contra o tempo e negociando consigo mesmo. Isso é muito difícil. Isso é doloroso.


WANG: O que eu amo na produção é que é um ato de fé. Todos os dias você aparece no set. Vai chover? O que vai acontecer? E se as circunstâncias não são o que você espera, você tem que fazer o melhor dessa situação. Por exemplo, eu filmei na China, no túmulo do meu avô. Ele morreu logo após eu sair da China. Eu tinha 6 anos. Nunca o vi novamente. E não conseguimos permissão para filmar no túmulo de outra pessoa, então eu disse: "Vamos filmar no túmulo do meu avô." E as nuvens de tempestade estão chegando e você sente aquela eletricidade. É por isso que sou cineasta. É simplesmente mágico.


CUNHA: Eu sempre gostei de ver acontecer. Ver tomar forma, seja na produção, nas filmagens, na edição... Sei que pode parecer meio amplo, "gostar de tudo" - mas pra mim a sensação de ver cada pecinha se encaixando, seja aquele fornecedor aceitando te dar um desconto, seu ator acertando as falas ou cabendo no figurino, a direção de fotografia captando exatamente o ângulo que você imaginava, ou vendo que a cena que você gravou para o curta conseguiu bater o tempo exato pra finalizar em 15minutos. Essa "fé" como disse a Lulu, que se prova e te entrega de braços cheios um sonho concreto, pra mim isso compensa qualquer estresse.



Qual é a dureza necessária para ser diretor?


PHILLIPS: Costumava brincar e dizer: "Ser diretor é acordar, ter 42 brigas e ir dormir."


SCORSESE: É verdade.


PHILLIPS: Mas você também tem que ter uma quantidade incrível de empatia com os atores e realmente entender o que eles estão fazendo e como eles estão se colocando em jogo. Você tem que ser duro em certos aspectos com o estúdio, às vezes com a equipe, no que diz respeito a conduzir as coisas em um ritmo específico e tudo mais. Mas você também precisa ter uma grande dose de empatia.


WANG: E comunicação. Trata-se de clareza na comunicação. Eu não trabalhei com um estúdio, mas com produtores, muitas vezes, você está brigando e, na verdade, é apenas sobre "Ah, você não entendeu o que eu estava tentando fazer."


CUNHA: Você tem que entrar em um set sabendo que o seu trabalho é um dos mais odiados ali dentro, e ainda assim querer fazer aquilo pelo tempo que você ainda tiver de gravação. Se uma cena for cortada, é o trabalho e a dedicação de centenas de pessoas que você tem que olhar e dizer que não era necessário - eu sei que tem mais por trás mas não é isso que um diretor de fotografia que passou semanas em um mapa de luz vai pensar, ele vai pensar "essa va*a cagou pro meu trabalho" - e você vai ter que ser firme e esperar que ele trabalhe com você de novo. É tudo sobre o jeito que você age, esticar as vogais e ser simpático por que no fundo, você sabe que vai ser um pé no saco - mas no final vale a pena.


O cinema foi o primeiro amor de todos?


GERWIG: Não sei se foi o cinema ou nada para mim. Poderia ter sido teatro ou algo diferente.


MEIRELLES: Bem, sou arquiteto. E antes disso, tentei ser biólogo marinho. Mas quando estava terminando a escola, comecei a fazer vídeos experimentais. E depois passei para a televisão e, em seguida, para os filmes.


SCORSESE: Eu tentei o seminário, mas me pediram para sair. Depois de um ano de preparação. Foi terrível. Eu tinha apenas 15 anos e percebi quando entrei lá que era um grande compromisso. Havia um padre que era meu mentor e ele era um homem extraordinário. E eu queria ser como ele — mas você não pode tentar seguir uma vocação porque quer ser como alguém. Você precisa encontrar a sua própria.


CUNHA: Eu sempre quis ser diretora... bem específico - desde uns seis anos. Eu sou irmã mais velha né, sempre adorei mandar, e meu passatempo favorito era criar peças e videoclipes com as minhas irmãs. No mês que eu me formei na faculdade eu tive um momento enorme de "será que eu fiz a coisa certa? será que ao invés de uma pós eu começo administração ou algo mais certeiro?" - mas então eu fui chamada pra estagiar em uma produção de curta metragem e percebi que não importa o que, o meu lugar é no caos de um set de gravação.


Qual momento o testou mais, criativa ou profissionalmente?


SCORSESE: "A Última Tentação de Cristo", com certeza. Foi condenado por elementos muito conservadores, evangélicos cristãos. Sou católico romano, é uma coisa diferente. E até a hierarquia da igreja o condenou sem vê-lo. Foi um pesadelo. E eu realmente, realmente acreditei nele. E ainda acredito. Mas, de certa forma, algo aconteceu. Cerca de uma semana antes da estreia, enquanto observava tudo isso acontecer, percebi que o filme nem é importante. Não é importante. É sobre o que está acontecendo agora. E isso me entristeceu, mas me fez perceber que talvez a arte seja importante, mas há algo além disso.


PHILLIPS: "Coringa" foi bastante difícil, por mais louco que pareça agora. As pessoas o atacaram como um alvo e começaram a falar sobre por que é perigoso. E na realidade, fizemos um filme sobre trauma na infância e a perda de compaixão. Todo mundo sempre quer falar sobre a faísca e não sobre o pó.


MEIRELLES: A coisa mais difícil foi quando dirigi a abertura das Olimpíadas no Rio em 2016 com dois amigos, e eu nunca tinha dirigido algo ao vivo. Tive que falar sobre meu país para o mundo todo.


BAUMBACH: Houve cenas em "História de um Casamento" em que eu realmente tive que parar e dar voltas no quarteirão para me acalmar, de uma maneira que nunca tive que fazer antes.


CUNHA: Eu to sempre caminhando pra me acalmar, ou chorando no qg de arte... Quando eu comecei a estagiar no Brasil - vocês tem que entender que não tem muitas oportunidades no sul, e eu consegui dois estágios! Mas eu servia cafezinho e limpava a mesa de bolachas enquanto o resto da equipe estava no set... e eu sei que sempre falam "você começa como a pessoa que serve cafezinho pro chefe e depois vai crescendo até virar o chefe" - mas por mais besta que parece aquele foi um momento que eu pensei "será que eu realmente quero passar tanto tempo servindo cafezinho pro chefe? será que eu não quero me sentir bem comigo mesma fazendo outra coisa?".


Obrigada a todos que leram até aqui, e espero que possam, quem sabe, me ouvir em breve em algum podcast ou entrevista por ai...

Prometo que até lá farei o curso "Como falar menos e mais compreensível"

Até mais!



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