Entre Tela e Realidade: O Peso de Ser Você
- nicole cunha
- 11 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Às vezes, quando me pego pensando sobre coisas do cotidiano, medos e ambições mais profundas, eu tenho uma necessidade quase desesperadora de saber se sou alguém relacionável, se outras pessoas também sentem ou já sentiriam o que eu sinto. Esse desespero não ultrapassa o medo de que, se eu compartilhar esse sentimento com alguém, no fundo, ninguém vai entender. E se eu compartilhar meus pensamentos e sentimentos e acabar sendo constrangedor ou feio?
Já diria Fernando Pessoa (e disse mesmo), "Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias e, por isso, sentir é entender, visto que o universo não tem ideias." Talvez seja isso que me intriga tanto: a ideia de que, ao compartilhar o que sinto, estou criando um ponto de conexão com o mundo. Mas e se essa criação não for compreendida?
É engraçado como a arte, especialmente os filmes, tem esse poder de nos fazer sentir menos sozinhos. Passamos mais pano para os filmes, aceitamos mais o que é mostrado neles. Talvez por envolverem um processo colaborativo tão grande, é mais fácil pensar: "Se tantas pessoas participaram do processo e também se sentem assim, é tudo bem eu dizer que também sinto". Um personagem pode fazer algo vergonhoso e isso ser aceito. De repente, dizer "Eu sou igual ao personagem" se torna algo palpável e compreensível.
Filmes são uma espécie de "terra de ninguém", um espaço onde quase tudo é permitido e aceito. A magia do cinema reside no fato de que ele tem um público tão abrangente que praticamente qualquer sentimento, pensamento ou ação pode encontrar uma ressonância em alguém. É como se o grande número de espectadores validasse as experiências e emoções dos personagens. Se você vê um personagem passando por algo que você já passou, de repente você não se sente tão isolado. É como se a tela grande legitimasse as suas próprias experiências.
Sabe aquela frase: nenhuma experiência é individual? É que, no fundo, elas não são. Podemos optar por criar algo com o qual outros possam se conectar, o que é ótimo, ou experimentar algo completamente novo - e isso também é válido. Afinal, somos expressões vivas do mundo ao nosso redor. Como Joseph Campbell observou, quando entendemos que pertencemos à terra, nossos sentidos e vozes se tornam extensões dela.
A verdadeira novidade são as novas conexões com as coisas que já existem. Durante muito tempo, eu mesmo me adaptei para receber uma aprovação que existia mais na minha mente do que na realidade – uma tentativa constante de ser aceito ou encaixado. Eu acho que é importante a gente estar ciente do nosso entorno pra gente poder pensar e criar perspectiva, mas nem sempre nosso entorno será bom.
Na vida real, tentar se encaixar é um desafio constante. Há uma pressão imensa para se conformar às expectativas da sociedade, para ser aceito pelos outros. Muitas vezes, colocamos máscaras e fingimos ser algo que não somos, apenas para sentir que pertencemos. É como se estivéssemos todos participando de um grande teatro, onde a autenticidade é sacrificada em nome da aceitação.
Vou exagerar agora e soltar uma frase que eu descobri uns anos atrás e que acho que faz sentido aqui, ela é em latim: homo sum, et humani nihil a me alienum puto. Sei que tem homo e puto numa mesma frase, mas a tradução é boa:
Homem sou e nada daquilo que é humano me é estranho. Por mais vergonhosas, horríveis, ou indecodificáveis que sejam as experiências humanas, elas ainda são humanas.
Gostaria de explorar essa ideia de ser 100% real. Diferente do que sou na vida real, onde coloco máscaras e filtros para ser aceitável. Quero saber se, ao ser completamente verdadeira, as pessoas ainda me amariam. Imaginei uma personagem, Nicole, que não é boa o tempo todo. Ela não é necessariamente má, mas confusa e errada, tomando decisões erradas na hora certa ou vice-versa. No fundo, ela só quer pertencer.
Nem todas as ideias são imediatamente claras – mas será que precisam ser? Às vezes, o fato de não serem compreendidas de cara é justamente o que indica que são novas. É algo em formação, algo que ainda está tomando forma e se adaptando, se misturando lentamente ao que já existe, como uma tinta se espalhando na água.
Nicole é o tipo de personagem que faz você rir e chorar (talvez de desespero) ao mesmo tempo. A complexidade dela faz com que você se pergunte: "Será que sou assim também?"
Como toda garota de 12 anos, eu passei por uma mega mudança de estilo, e ela foi totalmente influenciada pelas pessoas ao meu redor (e pelas garotas da disney, mas isso é detalhe). 12 anos é uma idade complicada, e algumas meninas podem ser... indelicadas (pra não dizer outra coisa). Eu demorei pra perceber que o estilo das meninas de um metro e trinta nunca seria o mesmo que combinaria comigo, que basicamente nasci com um e setenta... As fotos não mentem, e a prova de que eu estava desconfortável é eterna. Quando eu descobri o meu estilo, eu percebi que conseguiria ser descolada sem me encaixar dentro do padrão estabelecido pelo grupinho. Eu abrangi o termo para encaixar quem eu sou. Espero que você faça o mesmo. Não se encolha para caber em lugar nenhum.
Eu sou a Nicole. E talvez você também seja.
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